Biografia

Bioquímico, livre-docente pela Universidade do Chile e professor titular, emérito e colaborador sênior do Instituto de Química da Universidade de São Paulo. Doutor em Bioquímica pela USP e pós-doutor nas universidades de Harvard e Califórnia (EUA).

Publica regularmente artigos científicos em revistas especializadas e também, em diversos meios de divulgação, contribuições relacionadas a educação superior e política científica e de tecnologia.

Exerceu os cargos de presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq) e da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular; CEO da Fundação Butantan; diretor do Instituto de Química e vice-diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP; pró-Reitor de pesquisa da USP, vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências e co-presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências, entre outros.

Frases:

“A USP é uma universidade que deu certo em uma sociedade injusta”

“Porque Ciência, Tecnologia e Inovação livram grandes países de quaisquer crises”

“Separar Ciência e Tecnologia do Transporte, da Educação, de qualquer coisa, hoje é muito complicado. A visão que a sociedade tem de Ciência e Tecnologia, como se fosse uma coisa separada do dia a dia, é errada.”

É essencial integrar empresas e governo tanto nos avanços da  Ciência quanto  da Tecnologia.

“Ciência e Tecnologia são parte da solução de todos os grandes problemas da sociedade”

Biografia

Nasci em 1939 no Chile, cercado por extremos contraditórios que me acompanharam por toda a infância, vivida em um ambiente em que o assunto eram os conflitos da 2ª Guerra Mundial.

Minha mãe, Sonia, era introspectiva. Sua serenidade e capacidade de observar a levaria, décadas mais tarde, ao sucesso como escritora. Meu pai, Salomón, farmacêutico expansivo e articulado, era um risonho gozador, alma de todas as festas.

Nos almoços de sábado na casa de minha mãe os opostos também se sentavam à mesa. O avô paterno, um bonachão à moda antiga, bebedor e esbanjador, e o materno, um religioso intelectual. Direita e esquerda dividindo iguarias, enquanto comparavam vitórias e fracassos ideológicos. Tudo entre o som das ondas violentas da praia e o silêncio majestoso dos Andes, a calmaria das dunas sob o sol e o cheiro forte do mar.

Essa convivência híbrida talhou meu caminho e modo de pensar. O sentimento intenso, fruto do ambiente da guerra, era de raiva, e frustração por nada poder fazer. Incorporei essas preocupações à minha personalidade e, mais tarde, às minhas pesquisas.

Formei-me em Bioquímica na Universidad de Chile em 1962. Uma bolsa de estudos no Brasil, conquistada em 1969 junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), me trouxe ao Brasil para nunca mais sair. Doutorei-me pela Universidade de São Paulo em 1979 e, no ano seguinte, naturalize-me brasileiro. Cinco anos depois me tornaria professor titular do Departamento de Bioquímica do seu Instituto de Química. Ali tive a honra de ajudar a criar o curso de graduação em Ciências Moleculares, do qual fui coordenador, e do Curso Interdisciplinar de Pós-Graduação em Biotecnologia. Fui também diretor da Associação de Docentes da USP, diretor do Instituto de Química e pró-reitor de Pesquisa da USP, ao longo dos mais de 50 anos dedicados a essa universidade que deu certo em meio a uma sociedade injusta. 

Minha vida no laboratório gira em torno de uma única ideia: entender a relação entre a continuidade de uma solução e a descontinuidade de uma interface. Essa viagem entre o universo mais familiar e regular de uma solução diluída e o mundo interfacial onde, nas dimensões atômicas, todas as propriedades mudam dramaticamente com a distância, tem feito parte da minha reflexão científica nas últimas cinco décadas, em experimentos e teorias. Ao longo da minha carreira, além de ensinar, e contribuir para a formação de uma centena de alunos no nosso grupo de pesquisa, acredito ter contribuído para formular algumas ideias, descobrir fenômenos inesperados e, surpreendentemente para mim, influenciar aplicações.

Meu campo de pesquisa em Bioquímica enfoca a físico-química orgânica e sistemas biomiméticos — em especial micelas, vesículas, peptídeos e sua estrutura e aplicações. Iolanda, minha companheira de vida e de trabalho, é parte de todas as contribuições à ciência e à política que (ainda) faço. Entre algumas de minhas principais contribuições estão a descrição cinética completa da apirase e aminoacil-tRNA sintase; a descrição da formação de vesículas com surfactantes sintéticos; uma teoria para a análise quantitativa da cinética em agregados; a catálise notável de uma reação química em um sistema prebiótico; a atividade de água em micelas reversas; a primeira descrição de uma proteína desacopladora mitocondrial não associada a mamíferos superiores, a Proteína Mitocondrial Desacopladora de Plantas; a captura química em interfaces; as transições de forma e composição interfacial em micelas; e, mais recentemente, a seletividade de íons e a associação de peptídeos antimicrobianos a interfaces em vários sistemas.

A política é outra atividade decorrente dessas minhas inquietações. Umas vezes em reflexões acadêmicas, outras em cargos executivos, com olhos tanto para o cenário nacional quanto para o internacional. Mais um motivo de angústia, porque nessa oscilação entre Ciência e política, a profundidade em ambas diminui.

Fui presidente da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular e da InterAmerican Network of Academies of Science, e vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências e do International Council for Science. Entre 2009 e 2011, dirigi o Instituto Butantan. Em 2015, caiu sobre os meus ombros a responsabilidade de presidir o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), onde enfrentei uma das mais duras batalhas pelo financiamento de pesquisa neste país. A luta me custou mais do que minha saúde permitiu e fui obrigado a deixar o conselho em 2016, não sem antes deixar registrado, em palavras e ações, que a pesquisa, a Ciência e a Tecnologia fazem parte de qualquer solução, para qualquer crise, em qualquer país. E que esse compromisso deve ser não só da academia, mas também das empresas e do poder público. Tal tem sido minha pregação desde então.

Hoje mantenho colaborações em pesquisas e opiniões para o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia no país. Contribuo regularmente com descobertas científicas publicadas em revistas indexadas e capítulos de livros. E participo de debates sobre educação superior e política de Ciência e Tecnologia em livros, revistas, jornais, blogs e vídeos. Sou casado, tenho uma filha, dois filhos, uma nora, dois genros e duas netas, todos brasileiros. E cultivo o recompensador hábito de fotografar o bosque que criamos minha companheira Iolanda e eu, cujos registros faço questão de compartilhar aqui.

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